Invisibilidade que cresce nas ruas do Brasil
Números atualizados revelam dramatismo da situação e reforçam urgência de políticas dignas
“Se eu pudesse, eu não seria um problema social”, canta Seu Jorge — verso que ecoa como um grito contra a desumanização da população em situação de rua. Esta semana, marcada pelo Dia Nacional de Luta da População em Situação de Rua, revela um quadro alarmante: enquanto projetos de lei avançam para afastar essas pessoas dos centros urbanos, o problema real esquenta nas ruas. Ao contrário de tratá-los com dignidade, há quem queira invisibilizá-los.
Dados mais recentes: um retrato alarmante
A situação só se agrava. Segundo o Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua (OBPopRua/UFMG), com base no CadÚnico:
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Março de 2025: 335.151 pessoas em situação de rua no Brasil. Desse total, 84 % são homens, 3 % crianças e adolescentes, 9 % idosos; 81 % sobrevivem com até R$ 109 por mês.
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Maio de 2025: o número subiu para 345.542 pessoas, um aumento de cerca de 5,4 % em relação ao ano anterior. Destes, 70 % são negros, também 84 % são homens, além de 10.044 crianças e adolescentes (3 %) e 32.104 idosos (9 %).
Essa escalada constitui uma crise social, não apenas numérica, mas sobretudo existencial.
Panorama histórico e consolidação dos números
Em 2022, o Ipea estimou que 281.472 pessoas viviam em situação de rua, um aumento de 38 % em relação a 2019 e de 211 % nos últimos dez anos. Apesar das diferenças metodológicas - a contagem pelo CadÚnico considera apenas quem acessa políticas públicas - , os números convergem para uma trajetória de crescimento expressivo.
Contexto regional e perfil socioeconômico
| Indicador | Valor (Março 2025) |
|---|---|
| Total de pessoas em situação de rua | 335 151 |
| São Paulo (maior concentração) | ~146 940 |
| Rio de Janeiro | ~31 693 |
| Minas Gerais | ~31 410 |
| Proporção de pessoas negras | 70% |
| Homens | 84% |
| Sobrevivência com até R$ 109/mês | 79 – 80% |
Esses dados destacam o peso da desigualdade racial e econômica - a pobreza é estrutural e atravessa as ruas do país.
O que isso revela
Esse crescimento expressivo - de cerca de 281 mil em 2022 para 345 mil em maio de 2025 - não é numérico apenas. Revela falhas profundas no Estado e na sociedade. A ausência de políticas residenciais, de saúde, de educação e inserção produtiva empurra mais famílias e indivíduos para a invisibilidade.
Como afirma o coordenador do Observatório: “A Constituição Federal, de 1988, não está sendo cumprida com a população em situação de rua”. A dignidade humana, pilar do pacto democrático, está sendo ignorada.
Conclusão
A crescente contagem de pessoas em situação de rua - com 345 542 até maio de 2025 - exige uma resposta urgente e humanizada. Não se trata de um “incômodo urbano”, mas de vidas desamparadas, que clamam por moradia digna, assistência social, saúde, educação e inclusão. É hora de escutar o verso de Seu Jorge como chamada ao respeito e à justiça social, e não como trilha para o silenciamento de vozes que clama por direitos básicos.
Com informações de Arilson Chiorato, deputado estadual e presidente do PT-PR



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