Paraná discute empregabilidade de cuidadores

Audiência pública inédita aborda desafios e oportunidades para famílias cuidadoras

Paraná discute empregabilidade de cuidadores
Créditos: Orlando Kissner/Alep

A Assembleia Legislativa do Paraná realizou, nesta segunda-feira (30), uma audiência pública sob o tema "Empregabilidade de quem Cuida". Proposta pelo deputado Bazana (PSD), a iniciativa reuniu autoridades, especialistas e representantes da sociedade civil para debater os obstáculos enfrentados por familiares e cuidadores de pessoas com deficiência na busca por inserção no mercado de trabalho. O deputado também recebeu uma sugestão de projeto de lei para criar uma política estadual voltada para esse segmento.

Debate inicial e importância da inclusão

Ao abrir os debates, o deputado Bazana enfatizou a importância de discutir a realidade de quem se dedica integralmente ao cuidado de pessoas com deficiência. "É um debate inédito. Precisamos dar condições para que essa pessoa, que se entrega completamente ao cuidado de quem não pode ter uma vida independente, possa ter oportunidades melhores. Muitas famílias vivem apenas com o BPC e não conseguem pleitear algo melhor. Quando você prepara essas pessoas e cria oportunidades de trabalho, muda vidas. Nosso desafio é expandir essas políticas públicas em todo o Paraná, dando condições para quem cuida poder trabalhar, gerar renda, ter lazer e também vida social", afirmou o parlamentar.

Vozes das famílias cuidadoras

Juliana Mariano Pereira Gavron, coordenadora do grupo Diamantes Raros e mãe atípica, relatou a união de famílias em torno da empregabilidade. "Nosso grupo começou com mães de crianças com doenças raras, mas hoje reúne pais, esposas e irmãos que também cuidam. A principal demanda é emprego. São mulheres formadas, advogadas, engenheiras, que precisaram largar suas carreiras. Queremos políticas públicas que cheguem a essas famílias com oportunidades reais, porque são pessoas produtivas, que querem trabalhar e contribuir com a sociedade", destacou.

Proposta de projeto de lei

Proposta - Juliana entregou ao deputado uma sugestão de projeto de lei que institui a Política Estadual de Proteção, Valorização e Empregabilidade dos Cuidadores de Pessoas com Deficiência ou Doenças Crônicas no Paraná. A proposta reconhece o cuidado como atividade essencial, garantindo direitos como prioridade em serviços públicos, acesso gratuito à capacitação, suporte psicológico, incentivos ao empreendedorismo e programas habitacionais. Além disso, cria o Auxílio Estadual ao Cuidador, de caráter indenizatório, e benefícios para servidores públicos cuidadores, como redução de carga horária e teletrabalho.

Programa empresa amiga do cuidador

A proposta também prevê o Programa Empresa Amiga do Cuidador, incentivando empresas a adotar políticas de apoio ou contratar cuidadores, com certificações, benefícios fiscais e vantagens em licitações. O Estado poderá instituir centros de apoio, um Cadastro Único de Famílias Cuidadoras e um Comitê de Acompanhamento da Política para assegurar a implementação e fiscalização.

Ampliação das ações e suporte

Ampliação - Quelen Coden, da Secretaria da Família e Desenvolvimento Social, reforçou a necessidade de ampliar ações específicas para esse público. "Cuidamos de quem cuida e sabemos que o impacto é enorme. Muitas mães dedicam a vida quase integralmente aos filhos e isso afeta renda, autoestima e vida social. Precisamos pensar em políticas que ofereçam trabalho diferenciado e condições para que essas mulheres e famílias não vivam apenas do BPC."

Relatos pessoais e soluções propostas

Letícia Fanini, empreendedora e mãe atípica, ressaltou a importância de dignificar quem cuida. "Cuidado pode caminhar junto com o trabalho, desde que haja oportunidades. Empregabilidade de quem cuida é um tema de futuro, que permite conciliar e não obrigar a escolher entre cuidar ou trabalhar. Eu sou a prova viva de que é possível se refazer e quero que todos possam ter as mesmas oportunidades. Quem cuida não pode ser invisível."

Qualificação e parcerias

Sidnei Lopes de Oliveira, diretor regional do Senac/PR, colocou a organização à disposição para oferecer cursos e suporte. "Temos reservas de recursos e estamos preparados para atender, seja com turmas presenciais ou acesso individualizado a distância."

Iniciativas da indústria e governamentais

Fernando Mizote, da Fiep, destacou a preocupação da indústria com a inclusão e apresentou a cartilha de cuidados paliativos recentemente publicada. Liza Fortes, da SETR, apresentou programas de qualificação como o Qualifica Paraná e colocou-se à disposição para buscar soluções. Suelen Glinski sugeriu a criação de um mutirão piloto para mães atípicas, com horários flexíveis.

Desafios e propostas inovadoras

Bernardo Santoro, secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e pai atípico, propôs mudanças na lei nacional para permitir que mães ou responsáveis por PCDs preencham cotas no mercado de trabalho. Luiz Gustavo Purgato, da Defensoria Pública, apontou a falta de tempo como a principal barreira para a empregabilidade.

Aspectos emocionais e suporte psicológico

A psicóloga Milena Mariano destacou a importância da saúde emocional dos cuidadores. "Quando essas pessoas conseguem inserção no mercado de trabalho, conquistam autossuficiência, autoestima e autoconfiança, impactando não apenas suas vidas, mas toda a sociedade." Ela comparou a necessidade de apoio a colocar a máscara de oxigênio primeiro em si mesmo antes de ajudar os outros em um avião.

Experiência empresarial de inclusão

O empresário Everton Dall'Agnol compartilhou sua experiência de inclusão com uma colaboradora mãe atípica e ressaltou a necessidade de o empresariado compreender e atender às necessidades especiais dessas famílias.

Fonte: Assembléia Legislativa do Paraná